terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ipirá nos olhos do " Glauber rocha" de cada um


Quando comecei a dar palestras sobre o cinema nacional , evidentemente que busquei a fundo a História e a influência do cinema nacional como uma expressividade de cada época.Nos altos e baixos, nos momentos de grande inspiração e pura mediocridade, o cinema nacional sempre foi uma simbiose com a realidade de cada tempo.Foi o reflexo de uma época , de anseios e expectativas.
No processo de aprendizado me deparei de maneira mais minuciosa com as idéias de Glauber Rocha, seu realismo e criatividade em meio a tanta precariedade.Fiquei fascinado com Glauber em todos os aspectos, desde de um criativo diretor de cinema que consegue mediante aos seus filmes uma critica mordaz e corrosiva do Brasil que não deu certo.Do Brasil de uma elite escravocrata, da pequenez da nossa representação como individuos no apelo da mudança.Fiquei fascinado em conhecer mais minuciosamente o trabalho desse diretor que criou uma nova época com o cinema novo.O novo no angulo,na subjetividade, na interpretação de uma realidade social, de um Brasil opressor, injusto e desumano.Glauber foi uma voz de coragem em uma época de medo generalizado,foi a expressão do sonho de cada Brasileiro por um pais mais justo.
Tenho um video do enterro de Glauber, que o antropologo Darcy Ribeiro verbaliza em seu discurso mais o cidadão do que o cineasta.Nesse discurso, ele fala da breve vida do cineasta, "cuja vida foi marcada por lágrimas de uma dor da tamanha impotência pessoal diante das injustiças.Que o choro de Glauber era a expressão da dor das crianças com fome,do Brasil que não deu certo,da brutalidade humana,da estupidez, da tortura,da mediocridade.E os filmes do diretor era um lamento, um grito. E o que o diretor deixou em seu filmes foi a indignação.Sua indignação o tornou o mais indignados dos Brasileiros.Essa indignação nascia não só pelo mundo que ele podia ver,mas o mundo que poderia ser.Ele viveu entre a esperança e o desespero".
Glauber foi o nosso Fellini, o diretor que usou do cinema como um instrumento politico que com arte traduziu as mazelas de um Pais desumano.E que com essa frase "a arte revolucionaria deve ser uma mágica capaz de enfeitiçar o homem a tal ponto que ele não suporte viver mais essa realidade absurda".O cinema nas maõs do diretor se tornou de maneira bem sucedida um intrumento de percepção politica, da visibilidade do interesses ocultos de alguns que fazem da nossa realidade social um paraiso.Ele foi temido,marginalizado, execrado,mas deixou um legado de que não podemos nos entregar jamais.Enquanto existir anseio por um mundo mais justo, as forças não serão esvaziadas pelo tempo.Quem já chegou a um nivel de visualizar uma sociedade mais humana, não consegue assimilar pacificamente a mediocridade de uma realidade conduzida de cima para baixo.E isso Glauber fez de maneira brilhante,em terra em transe, Deus e o diabo na terra do sol ,o dragão da maldade contra o santo guerreiro ...
Ipirá precisa de novos Glauber rocha, os Glauber carpinteiros, mecanicos, advogados,professores, que assim como Glauber usou o cinema para expressar uma sociedade mais justa,eles possam usarem de seus papeis sociais para ensinarem que o ideal coletivo não é uma utopia.E que frases como "cada um por si" é uma forma desumana dos mais fortes pisarem nos mais fracos,e que toda sociedade precisa de que todos estejam inseridos no processo de lutas e conquistas.E que mesmo com todo avanço, a maior conquista continua sendo a mente e o coração de alguem que acredita que uma concepção de mundo mais justo pode ser uma realidade

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