quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno de Stephen Greenblatt


Leitura fantástica, mas prepare-se para ter suas crenças religiosas questionadas. Quem as questionou durante a Renascença pagou na fogueira. Desfrute, pois hoje em dia podemos ler um livro como estes sem o risco de sequer um chapisco. Pensar e questionar são luxos que foram conquistados para nós por pensadores corajosos, que no decorrer da história desafiaram o poder da Igreja Católica no ocidente, muitos inspirados por “Da Natureza”. “A Virada” narra esta evolução.
Stephen Greenblatt recebeu em abril o Prêmio Pulitzer de 2012 de não-ficção por sua obra “A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno”. Em sua citação o Comitê do Pulitzer declara que “A Virada é um livro provocativo que argumenta que um trabalho de filosofia descoberto há 600 anos mudou o curso da história, antecipando os avanços científicos e a sensibilidade do mundo de hoje.

No inverno de 1417, provavelmente em um mosteiro alemão, o humanista italiano Poggio Bracciolini encontra um manuscrito em más condições, mas com seu grande conhecimento de latim e literatura clássica romana, ele reconhece o valor extraordinário do seu achado. Poggio imediatamente ordena que o manuscrito seja copiado, e então enviado a seu amigo e companheiro humanista Niccolò Niccoli em Florença, na Itália.
Apesar de sua grande apreciação pelo poema, Poggio enfatiza sua beleza e a extraordinária habilidade poética de Lucrécio, mas não aborda os valores epicuristas da obra. Este é o começo da Renascença, e a Igreja Católica está em pé de guerra contra qualquer ameaça aos seus dogmas; manifestar simpatia pelas idéias revolucionárias em “Da Natureza” é extremamente arriscado.
Como Greenblatt escreve, “nenhum cidadão respeitável diz abertamente: A alma morre com o corpo. Não há julgamento após a morte. O universo não foi criado pelo poder divino, e toda a noção de vida após a morte é uma fantasia supersticiosa”. Ainda assim Lucrécio influenciou durante toda a Renascença vários artistas, pensadores e cientistas com as idéias de Epicuro.
Ao falar sobre os átomos “Lucrécio, que não gostava de linguagem técnica, não usa o termo filosófico grego, mas afirma que tudo é composto de partículas invisíveis. Tudo é formado por essas sementes e, em caso de dissolução, retorna à elas no final. Imutáveis, indivisíveis e infinitas em número, elas estão em constante movimento, chocando-se umas com as outros, unindo-se para formar novas formas, desmoronando e recombinando-se novamente, eternas.
“A Virada” argumenta que “Da Natureza” mudou o curso da história, trazendo a filosofia epicurista de volta à luz. As cópias e traduções do livro inspiraram artistas renascentistas como Botticelli e pensadores como Giordano Bruno; moldaram o pensamento de Galileu e Freud, de Darwin e Einstein; e influenciaram escritores como Montaigne, Shakespeare e até Thomas Jefferson.

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