quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Livro “Coisas Engraçadas Aconteceram no Caminho para o Futuro”




No livro “Coisas Engraçadas Aconteceram no Caminho para o Futuro” (Planeta, 2011), Fox conta detalhes de como conquistou o sucesso em Hollywood e as lições que reuniu dos erros e acertos cometidos neste trajeto.

Com bom humor, o artista resgata a ocasião em que aprendeu coisas que hoje lhe são caras. A importância da economia, por exemplo, ele entendeu quando enfrentou um período fome enquanto tentava emplacar como ator. Já a literatura, ele passou a compreender com as comparações entre os livros e suas respectivas adaptações para filmes e séries que ajudou a realizar.

Divertida, a leitura oferece pensamentos importantes para serem considerados ao encararmos os desafios cotidianos, principalmente para quem está na fase de tomar as primeiras decisões da vida.

Michael J. Fox também traz lições positivas retiradas de suas experiências no livro “Um Otimista Incorrigível: Como a Doença de Parkinson Fez o Astro de Hollywood Reinventar sua Vida” (Planeta, 2009).

Monte sua estante com produções que têm participação de Michael J. Fox

Leia trecho de “Coisas Engraçadas Aconteceram no Caminho para o Futuro”.

*

Em relação à minha passagem incompleta pelo ensino médio, eu vivia com a cabeça nas nuvens, como minha mãe costumava dizer – ou, caso você perguntasse ao meu pai, com a cabeça enfiada no meio da bunda.

Nas matérias obviamente criativas (teatro, música, redação e outras optativas de arte, desenho, pintura e gravura), eu sempre recebia muitas notas 10. Já em qualquer matéria fundamentada em regras fixas, como matemática, química ou física, minhas notas despencavam em queda livre; as estrelinhas douradas e carinhas sorridentes do ensino fundamental eram coisa do passado.

Quando chegava o boletim, eu tentava explicar à minha mãe, inconformada:

- São coisas absolutas, mãe. É um saco. Matemática, por exemplo. Dois mais dois é igual a quatro. Isso já está no livro, certo? Alguém já teve essa sacada. Não precisam mais de mim. Mas se alguém quiser descobrir como fazer a soma dar
cinco, pode contar comigo.

Minha mãe dava um suspiro e assinava o boletim rapidinho, antes de o meu pai chegar em casa.

Quando a luz vermelha acendeu no front escolar, veias azuis saltaram da testa do meu pai. Uma nota que me fazia passar raspando ou um telefonema da escola sobre uma visita à sala do diretor deflagravam uma reprimenda severa do meu pai, seguida de um certo alvoroço, na qual ele perguntava que raios eu estava pensando da vida e exigia que eu “tomasse jeito imediatamente”. Mas eu não ia mal porque era rebelde; eu não tinha raiva dos meus pais nem de ninguém. Ainda assim, nos últimos anos do ensino fundamental minhas notas continuaram a despencar. As reprimendas do meu pai ficaram meio automáticas, e foram se tornando mais brandas à proporção que ele aceitava a inutilidade desse expediente. Ele fazia uma careta com a boca, jogava as mãos para cima e saía de
cena – isso se eu mesmo já não tivesse escapado do local.

Quando entrei no ensino médio, eu já havia renunciado totalmente à vida acadêmica em favor da minha promissora carreira como ator. Uma aptidão havia se transformado em paixão e florescido até virar um sonho. Durante boa parte do segundo semestre de 1978, eu frequentava a escola de dia e me apresentava à noite numa peça de sucesso, que já estava em cartaz havia um bom tempo no
Vancouver Arts Club, sede da companhia de teatro mais conhecida da cidade. Todos os dias eu trabalhava no teatro até depois da meia-noite; na manhã seguinte, pulava da cama, me arrumava correndo numa clássica “coreografia” de quem está atrasado para a escola, me enfiava na minha picape, dirigia até o parque mais próximo, estacionava à sombra fresca de uma grande árvore, tirava um tapete emborrachado da cabine do carro, esticava na caçamba da caminhonete e dormia de novo.

A primeira aula do dia era de teatro, e me vi na bizarra situação de receber boas críticas por minha atuação profissional ao mesmo tempo que estava prestes a tomar pau nessa disciplina na escola por excesso de faltas. Numa tentativa de faturar créditos por conta da minha experiência de trabalho, chamei a atenção da professora de teatro para essa ironia. Nada feito. Mas verdade seja dita: ela estava de mãos atadas pelas políticas administrativas do colégio.

Com o tempo, ficou claro que eu ia levar bomba em praticamente todas as matérias. Avisei que não voltaria às aulas no segundo semestre. Dei uma volta na escola, recolhi as coisas do meu armário e me despedi dos amigos e professores com quem eu ainda mantinha algum tipo de comunicação. As dúvidas em relação à sensatez da minha decisão foram quase unânimes. Eu me lembro especialmente da conversa com o professor de estudos sociais.

- Você está cometendo um erro grave, Fox – alertou ele. – Você não vai ser bonitinho para sempre.

Por um segundo, pensei no que ele disse. Mas depois lancei um sorriso e respondi:

- Talvez eu seja bonitinho por tempo suficiente, professor.

Meu pai concordou em ir comigo de carro até Los Angeles para procurar um agente e dar início à carreira. Provavelmente você estava achando que ele ia protestar. Mas, considerando que ele mesmo frequentara a escola só até o nono ano, acabou raciocinando: embora eu tivesse me estrepado na escola, estava ganhando um salário razoável como ator. Sobre a mudança para a Califórnia, ele disse:

- Se você quer ser um lenhador, é melhor ir para a floresta.

Caramba. É isso que você, formando do ensino médio ou da faculdade, deve estar pensando neste exato momento. Essa experiência é totalmente diferente da minha. Não sei, não Será mesmo?

Hoje, quando penso nisso, essa história parece representar muito bem o rito de passagem vivido a cada ano por milhões de jovens de 17 ou 18 anos.

Minha saída de casa é análoga à experiência de qualquer aluno que deixa a casa dos pais para freqüentar a universidade. Eu me dei um prazo de quatro anos para atingir o objetivo de me transformar num ator em tempo integral, e tinha uma vantagem em relação a vários amigos que estavam de saída para alguma universidade estadual: eu já sabia no que queria me formar, e evidentemente tinha percebido que minha escola pregressa não oferecia aquela carreira.

*

“Coisas Engraçadas Aconteceram no Caminho para o Futuro”
Autor: Michael J. Fox
Editora: Planeta
Páginas: 144

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